O 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom) terminou neste domingo (28) em um dos cenários mais emblemáticos da Amazônia: o Encontro das Águas, em Manaus (AM). O evento reuniu cerca de 300 participantes entre comunicadores, agentes pastorais e religiosos, que durante quatro dias debateram o tema “Comunicação e Ecologia Integral: transformação e sustentabilidade justa”.
A cerimônia de encerramento foi realizada em uma balsa que saiu do Porto dos Pescadores em direção ao ponto onde os rios Negro e Solimões se encontram sem se misturar. A travessia funcionou como metáfora para o propósito do encontro: unir culturas e experiências distintas em busca de uma comunicação mais justa e transformadora.
Para Eduarda Miller, natural de Manaus, a presença de comunicadores de diferentes regiões do país reforça a importância da troca de vivências.
“É muito bom compartilhar a nossa realidade com o pessoal de fora, porque o pessoal de fora tem uma visão e a gente aqui tem outra. É muito bom estar ensinando a nossa cultura para eles, para que também possam levar daqui um pouco do que é ser amazonense”, disse.
A estudante destacou ainda a experiência nos chamados “rios temáticos”, espaços de formação que reproduziam a diversidade amazônica.
“Eu peguei o Rio Madeira, que só conhecia de nome. Lá aprendi muito com um professor da UFAM. Não foi só palestra, teve dinâmica, falaram da cultura, dos rios. Achei maravilhoso. Se pudesse participar de todos, eu participava”, contou.
A pluralidade cultural também marcou os relatos de estrangeiros. O colombiano Steven Santiesteban afirmou que a vivência em Manaus foi “gratificante” e que pretende aplicar em seu país os aprendizados do encontro.
“Conhecer as diferentes pastorais que há no Brasil me resulta muito gratificante. Replicar todos esses aprendizados na Colômbia será um desafio importante. Vamos fortalecer a comunicação com a espiritualidade e com o cuidado da casa comum”, afirmou.
A mineira Amanda Oliveira, da Arquidiocese de Uberaba, ressaltou a pertinência do tema diante da conjuntura sociopolítica do Brasil.
“O tema da ecologia integral é muito atual. Nosso papel como comunicadores é traduzir esse chamado do Papa Francisco para o cuidado da Casa Comum de forma compreensível para as pessoas. É um desafio, mas também uma experiência enriquecedora”, disse.
Além das reflexões, o Muticom buscou promover imersão cultural. Música, poesia e manifestações regionais acompanharam os debates. O cardeal dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, reforçou em sua mensagem final que os comunicadores devem ser instrumentos de esperança em meio às dificuldades.
“Tenhamos a certeza de que o Senhor nos acompanha, mesmo quando achamos que Ele dorme. Aquilo que transmitimos deve ser sempre motivo de elevação da dignidade humana e de todos os seres”, afirmou.
Ao final, os participantes aprovaram uma carta-compromisso, destacando a necessidade de integrar comunicação e ecologia integral, em sintonia com a encíclica Laudato Si’, que completa dez anos em 2025.
O Muticom 2025 encerrou-se, assim, com o compromisso de “construir pontes” , unindo diferentes regiões e perspectivas — e de levar para todo o país uma comunicação que, como os rios amazônicos, siga lado a lado com a esperança de transformação.