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Domingo Laetare: o verdadeiro dia das mães

Domingo Laetare: o verdadeiro dia das mães

Na Inglaterra, ainda na Idade Média, surgiu o costume de celebrar o Domingo Laetare também como o “Domingo das Mães”. Por essa ocasião, os estudantes e aprendizes eram autorizados a visitar a sua “igreja mãe”, a igreja em que foram batizados, onde deixavam rosas aos pés de Nossa Senhora.

Papa Francisco durante celebração do Domingo Laetare no Marrocos, em 2019. | Foto: Vatican News

No início da IV Semana da Quaresma, nós católicos celebramos o chamado Domingo Laetare ou Domingo da Alegria, que marca uma espécie de “fôlego” no ritmo penitencial próprio deste período. Para expressar essa alegria, os sacerdotes vestem-se com a cor rosa, assim como no Domingo Gaudete, do Advento. Trata-se de um interlúdio, por assim dizer, entre o roxo quaresmal e o branco pascal.

A origem desta simbologia do Domingo Laetare está na oração da antífona de entrada, que diz:

Alegra-te, Jerusalém!

Reuni-vos, vós todos que a amais!

Cheios de júbilo, exultai de alegria, vós que estais tristes,

e sereis saciados nas fontes da vossa consolação.

O trecho é retirado do livro do profeta Isaías (66,10-11). Jerusalém é reconhecida como a mãe que amamenta os seus filhos, consolando-os de toda tristeza. Para a fé católica, a Igreja é a nossa mãe celeste que nos consola com a Palavra de Deus e, especialmente, com os sacramentos. A Eucaristia é o alimento sublime para saciar as almas. Por isso, a Beata Juliana de Norwich comparou, com grande sensibilidade, o “doce lado aberto” do corpo crucificado de Cristo, do qual jorrou seu precioso sangue e água, ao seio de uma mãe.

Nesse sentido, surgiu na Inglaterra, ainda na Idade Média, o costume de celebrar o Domingo Laetare também como o “Domingo das Mães”. Por essa ocasião, os estudantes e aprendizes eram autorizados a visitar a sua “igreja mãe”, a igreja em que foram batizados, onde deixavam rosas aos pés de Nossa Senhora. E como estavam visitando o lar, visitavam também as suas mães biológicas, trazendo-lhes presentes e rosas.

A recordação da “igreja mãe”, ou seja, do lugar onde fomos batizados deve nos fazer recordar das promessas que fizemos no dia em que nos tornamos filhos de Deus: a renúncia ao pecado, ao diabo e às divisões bem como a profissão da fé católica. A crise da Igreja, nos dias de hoje, deve-se justamente à infidelidade dos católicos por não cumprirem essas promessas batismais. Muitos podem ser descritos nas palavras de Nosso Senhor no Evangelho da liturgia do Domingo Laetare: “… a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más” (Jo 3,19).

Por outro lado, aqueles que acolhem a luz de Nosso Senhor podem encontrar o caminho para correr ao encontro da verdadeira alegria. É o que suplicamos na oração da coleta do Domingo Laetare: 

Ó Deus, que por vossa Palavra

realizais de modo admirável

a reconciliação do gênero humano,

concedei ao povo cristão

correr ao encontro das festas que se aproximam,

cheio de fervor e exultando de fé.

Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus,

e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo,

por todos os séculos dos séculos.

No rito antigo, a oração dizia o seguinte: 

Concéde, quáesumus, omnípotens Deus: ut qui ex mérito nostrae actiónis afflígimur, tuae gratiae consolatióne respirémus. Per Dóminum / Conceda, nós te pedimos, Deus Todo-Poderoso: que nós, que pelo mérito de nossas ações estamos esmagados, possamos, pelo consolo de Tua graça, respirar novamente. Através de nosso Senhor.

A maioria dos Missais traduzia affligimur como “aflito”, e estão corretos. Mas como affligere deriva, em última análise, de uma raiz que significa “esmagar”, forma-se um contraste natural com respirare, respirar novamente ou reviver. A esse respeito, podemos recordar da terrível tortura infligida a Santa Margarida Clitherow, que foi esmagada até a morte enquanto grávida por grandes pedras, sob o reinado da Rainha Elizabeth I, na Sexta-Feira Santa, por se recusar a renunciar à fé católica. Nesta Coleta, reconhecemos que nossas próprias ações trazem consigo o grande peso da morte e oramos para que esse peso seja retirado e respiremos novamente. Respirar novamente também reforça a ideia do Domingo Laetare como um “respiro” em meio às lutas da Quaresma.

No fim das contas, a alegria do Domingo de Laetare, por outras palavras, é a alegria de saber que a nossa Santa Mãe Igreja, apesar dos escândalos ou das corrupções que a possam abalar, ainda tem os seios de consolação eucarística que nos alimentam e nutrem. Seria, pois, muito oportuno que os católicos, como gesto de piedade, visitassem durante esta semana a sua “igreja mãe” e recordassem das suas promessas batismais, a fim de terem as forças necessárias para correr ao encontro do Ressuscitado.

Referências

A coleta consoladora do Domingo Laetare

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